Doc. N° 2183
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
106 - 2007/2
Estudos regionais europeus e estudos interculturais: Altmark Altmärkisches Museum, Stendal, 15 de março de 2007
A.A.Bispo
Uma das questões que se levantam nos estudos das relações culturais em contextos internacionais é a da necessária contextualização regional e local dos temas considerados. Discussões teóricas, que procuram aprofundar análises mais pormenorizadas e orientadas criteriosamente devem ser fundamentadas em estudos realizados in loco e manter continuamente contacto com os estudos regionais. Sob a perspectiva euro-brasileira, essa exigência tem cunho de reciprocidade, ou seja, os estudos regionais e locais devem ser considerados de ambos os lados do Atlântico, estabelecendo-se elos em vários níveis e sob várias perspectivas disciplinares. Não é feliz a instituição das assim-chamadas Ciências Regionais (Regionalwissenschaften) nas universidades alemãs. Nelas se inclui a Latino-Americanística e nela se formam especialistas que atuarão muitas vezes em projetos interculturais que envolvem o Brasil. Segundo critérios da necessária reciprocidade a ser guardada, então dever-se-ia pensar se seria cabível a consideração da Europa ou da Alemanha numa área similar de "Estudos Regionais" nas universidades brasileiras. A unilateralidade, a falta de propriedade e até mesmo as conotações inadmissíveis da denominação "Ciências Regionais" tornam-se evidentes nesse jôgo de idéias. Essa denominação, no sentido em que é empregada, manifesta um eurocentrismo de posições que não é condizente com a intenção e o teor dos estudos interculturais, demonstrando problemas teóricos que necessitariam ser melhor refletidos para que não tragam implicações negativas. Ciências Regionais, num sentido mais adequado do termo, devem tratar de complexos de questões não em nível de estados, países, nações e de suas relações e constelações inter-nacionais, mas sim de regiões e comunidades. Não se trata aqui apenas de uma delimitação geográfico-espacial dos temas a serem tratados. Trata-se de uma distinção a serviço da procura de critérios metodológicos mais adequados para o desenvolvimento dos estudos. Sob o ponto de vista dos estudos culturais, levantam-se outras questões e se definem outros focos de concentração das atenções, por exemplo relativamente a problemas de identidade e representação.
O desenvolvimento dos estudos regionais exige a cooperação internacional, sobretudo em regiões de imigração e de emigração. De ambos os lados do processo migratório devem ser considerados os estudos das fontes, o desenvolvimento das pesquisas e as diferentes perspectivas. É uma necessidade para os estudos culturais nas zonas colonizadas, por exemplo, levantar fontes geneaológicas e histórico-culturais relativas às regiões de onde vieram os imigrantes. Somente a consideração do país, como muitas vezes se constata, não é suficiente para estudos mais aprofundados. Por outro lado, representa uma necessidade para os estudos culturais nas zonas de onde saíram os imigrantes conhecer as extensões de suas famílias em regiões distantes e as transformações que ocorreram com a sua cultura. Essa exigência se manifesta sobretudo pela constatação da influência exercida por retornados ou pela ação de emigrados a partir do Exterior na sua região de proveniência.
No caso dos estudos da imigração alemã no Brasil, tem-se várias vezes constatado a dificuldade de se obter dados e contextualizar conhecimentos e tradições familiares de brasileiros de origem alemã por falta de informação das respectivas regiões. Por essa razão, a A.B.E. tem procurado realizar estudos in loco das diferentes regiões alemãs pouco consideradas na sua história regional e no seu presente em publicações dedicadas ao país no seu todo. Esse trabalho, a ser desenvolvido gradualmente, confronta-se com o problema do diferente grau de desenvolvimento dos estudos regionais das várias regiões e comunidades de ambos os lados. Passo a passo, reconstroem-se estruturas sociais e edifícios culturais que permitem a solução de problemas encontrados na pesquisa regional em várias áreas do Brasil. Ao mesmo tempo, abrem-se portas para o estabelecimento de elos no trabalho intercultural.
Altmark, parte norte da região de Magdeburg, uma planicie situada entre as baixadas do rio Elba, na sua região central, e o vale do Ohre, pertence às regiões pouco conhecidas no Brasil, apesar de estar freqüentemente presente nas memórias de colonos. Essa região, situada na antiga zona divisória entre a ex-República Democrática Alemã e a Alemanha Ocidental, permaneceu durante muitos anos também pouco considerada na Alemanha Ocidental. O nome Altmark remonta à designação Nordmark de um marquesado instituído no ano de 965, medida destinada à proteção do Ducado da Saxônia. No século XII, os ascânios, em particular Albrecht, o Urso, partiram para a conquista dos territórios ao leste do rio Elba e que futuramente constituiriam a Mark Brandenburg.
O Museu do Altmark (Altmärkisches Museum) é uma instituição de significativa tradição, fundada em 1888. Como um dos mais antigos museus dedicados à história local e regional que se conhece, adquire relevância como testemunho da consciência da população de Stendal pelo passado da cidade e pela necessidade da conservação de seus documentos.
O museu está instalado no antigo convento de Santa Catarina, cuja antiga igreja foi transformada em sala de concertos. Como centro cultural, as suas atividades teem sido possibilitadas por doações de uma fundação criada por um casal de emigrantes locais que, vivendo e trabalhando nos Estados Unidos, não se esqueceram da sua cidade natal.
O fundo básico do museu foi constituído por coleções arqueológicas oferecidas por membros da sociedade que mantém a instituição. Hoje, a importância do museu reside sobretudo nas coleções de objetos medievais, incluindo obras plásticas de relevância internacional. O museu apresenta os objetos fundamentalmente em ordem cronológica, incluindo quadros ilustrativos e fundos arqueológicos referentes à pré-história e à história da região, móveis, vitrais e documentos da história medieval e, sobretudo, da história da expansão comercial e do apogeu industrial que a cidade vivenciou em séculos posteriores. Em exposições especiais, o museu apresenta os seus materiais em complexos temáticos elaborados criteriosamente e acompanhados de publicações e quadros elucidativos.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).