Doc. N° 2185
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
106 - 2007/2
Estudos culturais nas relações Alemanha-Brasil: situação e projetos Jornadas da A.B.E. no Castelo de Letzlingen
16 a 19 de março de 2007
A. A. Bispo
Como relatado nas edições anteriores deste órgão, a A.B.E. tem dado particular atenção aos estudos interculturais no âmbito das relações Alemanha-Brasil dentro da perspectiva ampla da Euro-Brasilianística desenvolvida pioneiramente pela instituição. Esses estudos inserem-se na longa tradição de relações entre o mundo de língua alemã e o Brasil e têm como objetivo tratar de questões culturais dentro de processos históricos a serem analisados de acordo com os debates atuais das ciências culturais e de sua teoria. Eventos realizados em vários centros da antiga imigração alemã no Brasil, por último no Espírito Santo, vem despertando a atenção para novos complexos temáticos a serem analisados no Brasil e na Europa sob perspectivas renovadoras e diferenciadas.
Os múltiplos trabalhos desenvolvidos e em desenvolvimento, sobretudo após as viagens de estudos realizadas pela A.B.E. em janeiro de 2007, têm levantado questões teóricas e de procedimento que exigem reflexões aprofundadas para o estabelecimento de prioridades e prosseguimento adequado das atividades. Do ponto de wista da science of science, os estudos específicos apresentam problemas especiais, e a análise de rêdes sociais e da história de instituições, assim como do envolvimento de sociedades bilaterais, institutos e grupos com ministérios, fundações, firmas e empresas surge como de fundamental relevância para a discussão de questões ético-científicas.
Como levantado em trabalhos recentemente desenvolvidos pela A.B.E., os estudos culturais nesse contexto devem ser considerados também sob a perspectiva da imigração latina para a Alemanha, e a fase atual do processo identificatório - e reativo - coloca problemas até hoje pouco considerados. Uma revisão dos fundamentos teóricos dos estudos inclui necessariamente a consideração dessas novas situações.
Os estudos da imigração e da colonização alemã no Brasil levam freqüentemente a problemas de natureza histórico-cultural concernentes à própria Alemanha. Os estudiosos defrontam-se freqüentemente com a dificuldade de obtenção de informações e de estudos referentes às regiões de onde vieram os imigrantes no passado. Procuram, assim, vir à Alemanha para levantar dados e desenvolver estudos específicos. Na própria Alemanha, porém, as regiões de antiga imigração, em geral pobres e marginais no passado, não pertencem ao corpo principal de questões tratadas pelos historiadores. Pesquisadores locais procuram também reconstruir situações e circunstâncias, recuperar nomes e destinos, esperando para isso a contribuição daqueles que, no Exterior, conservaram documentos e tradições de seus antepassados. O desenvolvimento dos estudos específicos exige, portanto, o trabalho cooperativo internacional e perspectivas supranacionais. Além do mais, exige, de ambos os lados, o controle crítico contínuo de posições e concepções determinadas pelo processo de mudança de identidades.
Um problema especial diz respeito às regiões do Leste alemão, da antiga República Democrática Alemã. Desses territórios proveio grande parte dos antigos colonos e é compreensível que os estudos interculturais continuamente se defrontem com referências a cidades, famílias, contextos culturais e religiosos do Leste alemão. Entretanto, a história cultural desses territórios, sobretudo devido à divisão política do passado recente, é ainda pouco conhecida nos seus pormenores pelos estudiosos especializados, não apenas pelos brasileiros.
Tendo em vista essa situação, a A.B.E. decidiu, como resultado das impressões recebidas em Domingos Martins, Santa Leopoldina e, sobretudo, Santa Maria do Jetibá (Espírito Santo), dedicar uma série de viagens de estudos e projetos de pesquisa voltados a estados alemães do Leste. Uma especial consideração deverá ser dada à Pomerânia.
Para a preparação dessa série de empreendimentos e, ao mesmo tempo, iniciando-os, realizou-se um retiro para reflexões, balanço dos trabalhos em andamento e planejamento de atividades. Para isso, escolheu-se o Castelo de Letzlingen, na região de Colbitz-Letzlingen, próximo de Magdeburgo.
No seu estilo neo-gótico, com muitas ameias, rodeado pitorescamente de bosques, o castelo de Letzlingen se apresenta como impressionante exemplo do romanticismo historicista do século XIX. Foi reformado nesse estilo a partir de 1843 pelo arquiteto Friedrich August Stüler, sob ordens de Friedrich Wilhelm IV da Prússia. Ao antigo cerne do complexo arquitetônico desse castelo de caça dos Hohenzollern foram anexadas as residências para os cavaleiros e castelães no decorrer da década de sessenta do século XIX. Em 1861, consagrou-se a nova igreja, de imponentes dimensões, construída com tijolos de cerâmica e localizada defronte ao palácio. Da sua reedificação no século XIX até pouco antes da Primeira Guerra Mundial, o castelo foi centro de encontros de nobres que se dedicavam à caça, adquirindo significado social e político sobretudo sob Guilherme I° e Guilherme II°. Ali se encontraram estadistas como Otto von Bismarck e monarcas de outras nações, como o Czar Alexandre II°.
O castelo foi edificado entre 1559 e 1562 pelo príncipe eleitor Johann Georg de Brandenburg em região conhecida pela sua abundância de caça entre os povoados de Letzlingen, Wittenwende e Schönfeld, sendo designado significativamente como Castelo do Cervo. O princípe eleitor passava longos períodos no palácio. Durante a Guerra dos 30 Anos, entre 1618 e 1648, o edifício sofreu ataques e saques. Em 1729, edificou-se uma nova igreja.
Após a Primeira Guerra Mundial, com a abdicação do imperador Guilherme, o castelo foi alugado pela "Comunidade livre escolar e laborial", uma organização dedicada à reforma pedagógica que ali manteve um internato até a tomada do poder pelos nacional-socialistas, em 1933, quando foi preso o seu diretor, Dr. Bernhard Uffrecht. Passou então a ser sede da escola de dirigentes da SA. Durante a Segunda Guerra, ali se instalou um lazareto e, posteriormente, um hospital.
Em 1996, erigiu-se a Fundação Palácios, Castelos e Jardins LSA. Após grandes e modelares trabalhos de restauração, o castelo passou a abrigra, desde 2001, um museu com objetos relativos à história do castelo e da caça nos campos de Letzling. Nas suas dependências se realizam também encontros, conferências, seminários e recepções.
Os projetos desenvolvidos durante as jornadas e as respectivas reflexões teóricas serão relatados em edições futuras deste órgão.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).