Doc. N° 2149
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
105 - 2007/I
Áustria-Itália-Brasil
Imigrantes tiroleses no Espírito Santo: Santa Teresa
Situada na região serrana de imigração do Espírito Santo, a cidade de Santa Teresa é uma daquelas localidades que procuram valorizar a herança cultural dos imigrantes, no caso, sobretudo a dos italianos. No sentido da relevância do seu patrimônio material e imaterial italiano, apenas pode ser comparada com as congêneres cidades do Sul do Brasil, por exemplo Caxias do Sul. Embora a museologia da colonização italiana não esteja aqui tão desenvolvida, a cidade oferece, na Casa de Virgílio Lambert significativo documento da vida rural dos imigrantes. Na capela próxima, estabelece-se uma relação da religiosidade italiana na imagem esculpida pelo imigrante Antonio Lambert (1889) com a devoção popular brasileira. Os estudos relativos ao complexo Migração e Estética, tal como empreendidos no projeto de mesmo nome da A.B.E., encontra nas ruas centrais da cidade subsídios para o seu desenvolvimento. A valorização da arquitetura urbana, relativamente modesta, através de cores vivas, a decoração pictórica singela mas viva da igreja matriz, indicam o intuito de construção ou de reforçamento da identidade local a partir de um referenciamento na cultura de imigração. Centro representativo da vida sócio-cultural do passado é o Bar Elite, onde conscientemente se celebra a história na conservação do mobiliário original e na exposição de materiais referentes a grupos folclóricos ítalo-brasileiros.
Sob o ponto de vista ambiental, Santa Teresa se salienta por possuir o Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, fundado em 1949 por Augusto Ruschi, naturalista que se destacou pelas suas pesquisas e pelo seu empenho na preservação ecológica do Espirito Santo, em particular da Mata Atlântica. Um documento histórico para a consideração de Santa Teresa no âmbito do projeto "Caminhos do passado - reorientações para o futuro", da A.B.E., é o relato da princesa Teresa da Baviera na sua "Meine Reise in den Brasilianischen Tropen" (Berlim 1897). A autora, que procurou, em agosto de 1888, o contacto com indígenas do Espírito Santo e fornece informações valiosas relativas aos Botocudos/Aimorés, transmite observações próprias da vida de colonos nessas regiões, também em Santa Teresa: "Finalmente, ao redor de 11 horas alcançamos a aldeia montanhesa de Santa Teresa, sobretudo habitada por italianos. Como, por êrro, éramos esperados apenas para o dia seguinte, a família de comerciantes belgas que nos deveria receber já tinha se recolhido ao repouso. Assim como o nosso hospedeiro de ontem, também tivemos que tirar da cama o de hoje, para que este pudesse abrir-nos a porta e indicar o nosso quarto. Como na manhã seguinte os animais de carga ainda não tinham chegado e não tínhamos nem ao mesmo um pente, a toilette da manhã deixou a desejar, assim como a da noite anterior. Também não se podia pensar em seguir viagem, pois tínhamos que nos convencer que as malas realmente viessem. Assim, a ordem era: paciência, ou esperar impacientemente. Aproveitamos o pouso obrigado para visitar Santa Teresa. Isso deu-se rapidamente. A localidade, à qual pertence as partes da antiga Colonia Sta. Leopoldina denominadas de Timbuhy, situa-se entre montanhas de meia altura, próximas umas das outras, perto do riacho Timbuhy. Ela é formada de algumas poucas casas de alvenaria não-bonitas, e uma pequena igreja, à qual, porém, falta o sacerdote. As casas têm telhados cinzentos e lembram, sem as janelas e as portas, um pouco as casas campôneas tirolesas, de modo que se poderia quase supor estar numa aldeia do Tirol. Na torre da igreja, que é construção à parte, à moda italiana, o sino não é tocado por batidas, mas sim, como entre nós, por meio de uma corda. Mais do que por esse povoado sem interesse, interessei-me por um gambá que na noite passada caiu num alçapão para a alegria do nosso hospedeiro. O animal, ladrão de galinhas, tinha, contado a partir do rabo, pelo menos 45 cm de comprimento (...)
Os tropeiros devem ser na sua maioria mestiços, trazendo sangue de índio nas veias. O nosso guia, entretanto, um tirolês de name Ferrari, antigo caçador do imperador, que, quando perguntei se ia se naturalizar brasileiro, respondeu com orgulho: "Austriaco sono nato, Austriaco voglio morrire." Também os nossos dois ajudantes de mulas de carga são tiroleses ou italianos, falam entre si e com o tropeiro, porém, curiosamente em português. Interpelados por que, sendo todos italianos, se utilizavam de uma língua estrangeira, disseram que isso ocorria espontâneamente, pois sempre se ouvia esse idioma ao redor. Esse fácil abandono da língua nativa ocorre, segundo as minhas observações, apenas entre aqueles imigrantes cujo idioma é próximo daquele do novo país. Assim, os latinos não portugueses se adaptam no Brasil com mais facilidade ao português do que, por exemplo, os imigrantes alemães, que conservam durante toda a vida o uso de sua língua. Ao contrário, nos Estados Unidos da América do Norte, são os imigrantes alemães que se utilizam do inglês, próximo do seu idioma, mesmo em círculos só formados de alemães, enquanto que as nacionalidades mais afastadas da raça inglêsa conservam-se puros com relação a esse abandono do próprio idioma." Therese Prinzessin von Bayern (th. von Bayer). Meine Reise in den Brasilianischen Tropen. Mit zwei Karten, 4 Tafeln, 18 Vollbildern und 60 Textabbildungen. Berlin: Verlag von Dietrich Reimer (ernst Vohsen), 1897, 320-322.
A.A.B.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).