Doc. N° 2155
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
105 - 2007/1
Viagem cultural III: Rotas da imigração no Espírito Santo
Domingos Martins, Santa Leopoldina, Venda Nova, Santa Maria do Jetibá, Santa Teresa
No âmbito do complexo temático "Caminhos do passado-reorientações para o futuro" da A.B.E., que motivou a realização de uma viagem de estudos culturais a vários Estados do Brasil em fins de 2006 e início de 2007, deu-se continuidade à discussão de temas relacionados com a performação de identidades através de ações missionárias, com processos de expansão por motivos econômicos e com a imigração européia, em particular ao Espírito Santo. No estudo dessas questões, refletidas na sua interdependência, focalizou-se sobretudo o seu relacionamento com estradas e outras vias de comunicação. O Espírito Santo oferece condições especialmente favoráveis para a análise dessas questões. As regiões colonizadas por imigrantes europeus, sobretudo de países de língua alemã e italianos, oferecem na sua diversidade, significativos aspectos de similaridade que possibilitam um tratamento sistemático de desenvolvimentos histórico-culturais e, vice-versa, de uma consideração historiográfica de mecanismos inerentes a determinados processos culturais. Duas cidades foram particularmente consideradas: Domingos Martins, marcada pela colonização alemã, e Santa Teresa, que guarda o cunho dos imigrantes italianos. Em ambas as localidades constata-se hoje tendências de valorização do passado imigratório a serviço de uma definição de identidades locais.
Apesar de sua denominação aparentemente não o sugerir, a cidade de Domingos Martins é um dos centros do teuto-brasileirismo. A sua relevância para os estudos históricos da imigração torna-se evidente para o pesquisador da área que a conhece sob os antigos nomes de Santa Isabel e Campinho. A denominação de Santa Isabel (assim como as das próximas Santa Leopoldina e Santa Teresa) manifesta o vínculo de suas origens com o passado imperial do Brasil. A partir da difusão na Renânia do intituito de D. Pedro II° em apoiar o estabelecimento de imigrantes europeus no país (1846), várias famílias alemãs, sobretudo da região de Hunsrück, decidiram procurar um melhor destino na América do Sul. Com o apoio do governador da Província do Espírito Santo, Luiz Pedreira do Couto, foram estabelecidos na região então denominada pelos indíos Botocudos de Cuité. A identificação religiosa dos colonos foi desde o início de particular significado na formação das comunidades. Os imigrados católicos permaneceram em Santa Isabel, os luteranos dirigiram-se à região mais elevada de Campinho. Já em 1852 foi consagrada a primeira igreja católica. Os cultos protestantes, realizados primeiramente em casas particulares ou em capela logo edificada, passaram logo a ser celebrados em igreja que se tornou um símbolo na história evangélica do Brasil, uma vez que é considerada como sendo a primeira com torre no país. A história de Domingos Martins, que tem os seus documentos cuidadosamente preservados e estudados no museu local, apresenta numerosos nomes de personalidades locais que se destacaram na história local e regional. Para o estudo das relações culturais entre a Europa e o Brasil, a história da comunidade oferece inúmeros subsídios.
O significado dos caminhos para o estabelecimento dos povoados de imigrantes foi ressaltado já pela princesa Teresa da Baviera, cuja obra, "Meine Reise in den Brasilianischen Tropen" (Berlim 1897), representa uma das principais fontes históricas para a região, importância até hoje pouco reconhecida e que tem sido salientada pela A.B.E. A autora, que procurou, em agosto de 1888, o contacto com indígenas e fornece informações valiosas relativas aos Botocudos/Aimorés, transmite observações próprias da vida de colonos nessas regiões, em particular em Santa Leopoldina. "Após bem duas horas alcançamos Porto do Cachoeiro, que se agrupa nas encostas quase que ao modo de uma aldeia do Tirol. Esta villa é a sede do município do Cachoeiro de Santa Leopoldina. Distante de Vitória 52 km, se localiza na corredeira mais inferior do Rio Santa Maria. Até aqui, o rio, que é de maior envergadura na verdade apenas várias horas mais abaixo, a partir da embocadura do Rio Mangarai, pode ser navegado por canoas; em época de cheias até mesmo vapores já nadaram nas suas águas. Em Porto do Cachoeiro alcançamos a antiga Colonia Santa Leopoldina. Esta foi fundada em 1855, e no seu antigo território vivem hoje mais de 11000 almas. Essa população é constituída sobretudo de tiroleses, alemães, suíços, holandeses, belgas, franceses, italianos, poloneses e luso-brasileiros. Os primeiros colonos tiveram que lutar contra dificuldades, agora, parece que a maioria das pessoas tem um ganho modesto, alguns até mesmo bom. Com o apoio do govêrno provincial, sempre chegam novos imigrantes. (...) Em Porto do Cachoeiro nos hospedamos junto a um comerciante alemão e sua esposa, que nos receberam com muita amabilidade e não queriam deixar que prosseguissemos viagem. (...) Finalmente, após muita insistência, deu-se a partida para Santa Teresa às 4:30 horas. O nosso gentil dono da casa não pode deixar de nos acompanhar. (...) Therese Prinzessin von Bayern (th. von Bayer). Meine Reise in den Brasilianischen Tropen. Mit zwei Karten, 4 Tafeln, 18 Vollbildern und 60 Textabbildungen. Berlin: Verlag von Dietrich Reimer (ernst Vohsen), 1897, 312-113
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).