Doc. N° 2161
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
105 - 2007/1
Viagem cultural II: Caminho de Anchieta Reflexões a respeito do significado de um Caminho de Santiago no Brasil
No âmbito do complexo temático "Caminhos do passado - reorientações: vias de processos culturais - performação, exploração e colonização". a A.B.E., que vem considerando em vários de seus eventos a primeira questão sobretudo à luz de estudos dos mecanismos de performação identificatória cristã do indígena nos primeiros tempos da colonização, deu particular atenção, na viagem cultural emprendida de janeiro de 2007, aos empreendimentos que hoje se desenvolvem no Brasil sob o título de Caminho de Anchieta ou Passos de Anchieta e para os quais até mesmo se constituiu uma organização específica (Associação Brasileira dos Amigos dos Passos de Anchieta, Abapa) Esse fenômeno assume particular significado para as análises culturais de contextos euro-brasileiros, uma vez que estabelece vínculos entre caminhos percorridos no litoral brasileiro pelo missionário no século XVI com o Caminho de Santiago. Procurado por peregrinos, mas também por amigos de caminhadas e turistas culturais, os Passos de Anchieta procura criar e/ou revivificar a existência de caminhos com conotação espiritual no Brasil. Na viagem empreendida, tratou-se de visitar alguns dos locais considerados nessa programação, observando as suas formas de expressão, conseqüências e, sobretudo, de tecer reflexões a respeito da propriedade do estabelecimento de aproximações dos Passos de Anchieta com o Caminho de Santiago europeu. A mística do Caminho de Santiago e a interpretação hermenêutica das expressões simbólicas relacionadas com o complexo de rotas européias que levam a Santiago de Compostela vêm sendo consideradas sob vários aspectos em iniciativas da A.B.E.. Essas iniciativas foram realizadas inclusive in loco na própria cidade de Compostela, a Jerusalem do Ocidente. Uma aproximação do Caminho de Anchieta com o complexo do Caminho de Santiago, com as suas múltiplas conotações e o seu significado na história da Reconquista e da expansão da Cristandade assume extraordinária relevância para os estudos culturais, abrindo e/ou impondo perspectivas na consideração histórico-cultural. A justificação conceitual da iniciativa dos Passos de Anchieta reside sobretudo no fato de que o missionário ter percorrido continuamente longas distâncias para a consecução de seu ministério, especialmente, no caso, no Espírito Santo, entre a aldeia de Reretiba (hoje Anchieta), onde principalmente viveu, e o colégio de São Tiago, residência da Companhia de Jesus em Vitória, onde foi sepultado e onde os seus restos mortais estiveram em jazigo por alguns anos (1597-1609). A principal fundamentação teológica da aproximação de Anchieta à São Tiago Maior reside nessa veneração do Apóstolo pelos jesuítas do Espírito Santo. Sempre se salienta, por outro lado, o fato de José de Anchieta ter sido cognominado na língua geral de caraibebe, homem de asas, pela constância e rapidez de suas andanças. Essa denominação é significativa sob o pano de fundo da simbologia de São Tiago e do seu relacionamento anti-tipológico com concepções de Mercúrio ou Hermes da Antigüidade, como tem sido estudado e elucidado em eventos da A.B.E. Na atual peregrinação, de 105 km, realizada em três dias, parte-se em geral da Catedral de Vitória, fazendo-se estações, entre outras, em Guarapari, Setiba, Ponta da Frata, Barra do Jucu e Praia do Ubu. Pontos altos do caminho, do ponto de vista histórico-cultural e espiritual, são o Convento da Penha e a cidade de Anchieta, hoje Santuário Nacional, com a Igreja Nossa Senhora da Assunção e edifício adjacente, de extraordinária relevância para a história da arquitetura. O Museu Anchieta, aqui instalado, conserva uma considerável coleção de objetos litúrgicos da história da igreja regional e de publicações relativas aos estudos jesuíticos. Além dos estudos mais especificamente históricos e arqueológicos, o estudioso, interessado pela cultura de tradição oral e do simbolismo, tem a possibilidade de se ocupar com expressões significativas de cunho místico, tais como os vínculos do missionário com a água, concretizados nos vários poços a ele atribuídos As reflexões relativas a Anchieta deram prosseguimento, no âmbito da viagem cultural realizada, ao debate de questões por último levantadas em sessão da A.B.E. realizada no Pátio do Colégio de São Paulo, em 2004, por ocasião da passagem dos 450 anos de São Paulo. Entre os principais pontos de significado para os estudos jesuíticos agora visitados salientam-se: Catedral e Palácio do Govêrno de Vitória, Convento da Penha, em Vila Velha, Santa Cruz, Nova Almeida e Anchieta. Com base nas impressões recebidas e dados levantados, os estudos respectivos deverão ter prosseguimento.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).