Doc. N° 2127
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
104 - 2006/6
Sabedoria/Cultura e exaltatio crucis
Ubatuba: contextos pouco considerados nos estudos locais
No âmbito dos trabalhos relacionados com o tema Sabedoria e Cultura, que marcou os empreendimentos da Academia Brasil-Europa de fins de 2006, procurou-se, em visita a várias cidades do Rio de Janeiro de São Paulo, pontos de partida para reflexões que possam abrir caminhos para estudos contextualizados da questão e, ao mesmo tempo, para análises mais aprofundadas de constelações culturais locais e regionais.
Na cidade de Ubatuba (São Paulo), já considerada em vários eventos anteriores da A.B.E., as reflexões foram direcionadas a um complexo de questões pouco considerado nos estudos culturais específicos.
Sempre se recorda a fundação da cidade, em 28 de outubro de 1638, sem que seja dada maior atenção às conotações religiosas e simbólicas da dedicação espiritual da localidade. Esquece-se que Ubatuba foi fundada sob o signo da festa da Exaltação a Santa Cruz (Vila Nova da Exaltação à Santa Cruz do Salvador de Ubtuba).
Já se considerou, em estudos e debates, a importância da veneração da cruz na época dos Descobrimentos, expressa na própria denominação original do país, nos trabalhos de missão indígena e na formação de várias tradições culturais, como por exemplo a Dança de Santa Cruz. Em geral, porém, tem-se considerado a simbologia da festa da Invenção de Santa Cruz, ou da Cruz de Maio, alvo de vários estudos relativos às expressões culturais desse mês de primavera no hemisfério norte e de suas vinculações com o mistério da Ressurreição e da Transfiguração. Pouco se considerou, porém, a festa da Exaltação de Santa Cruz, uma festa que, no ano natural, cai no período oposto, na época de transição equinocial para a estação do outono europeu.
Os estudos teológicos e histórico-eclesiais referentes à Exaltação de Santa Cruz necessitariam ser ampliados com a consideração de situações extra-européias.
Afirma-se que a exposição da Cruz de Cristo a 14 de setembro de 335, após a consagração da igreja de Constantino, representa o provável início das tradições correspondentes. Originada assim em Constantinopla, teria sido introduzida no Ocidente pelo Papa Gregorio Magno. A festa de exaltatio crucis já era celebrada em Roma ao redor do ano 690. Na Espanha, porém, parece que já estava enraizada há muito (Dies crucis).
As reflexões foram direcionadas no sentido de questionar a existência de um provável vínculo entre a história, a tradição e a interpretação da Exaltação da Cruz e o processo histórico de recuperação da região para o trabalho missionário na "Paz de Iperoig".
Recordou-se o conflito entre os Tupinambás da região e os Tupiniquins de São Vicente e a constituição da "Confederação dos Tamoios" contra os portugueses. A Exaltação da Cruz teria sido assim relacionada com um determinado momento histórico da história dos indígenas e com o processo de mudança de identidades e colonização do Brasil.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).