No âmbito das reflexões relativas ao tema geral "Sabedoria e Cultura" dos trabalhos de novembro/dezembro da A.B.E., salientou-se as concepções teológicas do "mistério da primeira vinda" (Natal) e expressões culturais nelas fundamentadas. Nesse sentido, procurou-se apoiar as reflexões no ambiente de cidades caracterizadas por uma acentuada influência da correspondente simbologia na sua vida cultural.

Dentre as várias "cidades-presépios" do Brasil, destaca-se São Luís do Paraitinga, no Estado de São Paulo, cidade já várias vezes considerada em trabalhos da A.B.E.. A riqueza de expressões populares católicas da cidade foi reconhecida internacionalmente durante o Simpósio "Música Sacra e Cultura Brasileira" (1981).

Estudos históricos e histórico-culturais elucidam cada vez mais diversos aspectos da formação de São Luís do Paraitinga. Pouco se atentou, porém, à relevância do seu próprio nome - e das concepções relacionadas com o seu padroeiro - como caminho para a compreensão do ethos tradicional da comunidade e de sua importância para o estudo do repertório de expressões culturais. Tudo indica ser o franciscanismo de São Luís de Tolosa, ali venerado, o que explicaria o fato de São Luís do Paraitinga parecer culturalmente um "presépio". As tradições culturais da cidade indicam uma supremacia de expressões simbólicas do ciclo natalino, mesmo que os respectivos grupos também atuem em outras épocas do ano.

A veneração de São Luís de Tolosa implica em vínculos histórico-culturais com diversas nações da Europa, em particular com a França e com a Espanha. Também conhecido como São Luís de Anjou, foi filho de Carlos II de Nápoles, sobrinho-neto de São Luís, rei de França. Italiano de nascimento (perto de Salerno, 1274), faleceu em Brignoles, na Provença (1297). Esteve preso na Espanha, de 1288 a 1295, como refém. Foi nomeado arcebispo de Lyon, em 1294. Não assumiu o arcebispado, assim como também recusou a coroa de Nápoles, em 1296, dedicando-se exclusivamente à vida religiosa, no espírito de São Francisco. Foi consagrado arcebispo de Toulouse, em 1296.

A vida de S. Luís de Tolosa e sua obra teológica e musical ­ foi autor de um tratado de música polifônica -, ainda pouco estudadas, não podem ser avaliadas sem a consideração de seus elos com o franciscanismo. Sepultado na igreja franciscana de Marselha, as suas relíquias foram levadas para Valencia, Espanha, por Afonso de Aragão, em 1433. Foi daqui que o seu culto se espalhou pela Europa e pelas colonias.

A A.B.E. já teve ocasião de considerar a veneração de S. Luís de Tolosa em Valencia, em estudos realizados in loco. Coloca-se como tarefa de pesquisa futura analisar mais profundamente os documentos que tratam das razões históricas do culto em São Luís do Paraitinga.

(»»» Veja também São Luís do Paraitinga nos relatos das atividades da A.B.E. de 2006 »»»)

Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).