Doc. N° 2117
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
103 - 2006/5
Barroco e protestantismo: reflexões interculturais Eckenhagen
Circuito euro-brasileiro de estudos culturais na região de Oberberg e Vale do Agger
Estudos referentes ao Barroco são de grande relevância nos estudos culturais brasileiros. Reflexões a respeito do termo, das origens das expressões artísticas correspondentes, de suas transformações no decorrer dos séculos e nas várias regiões marcam sobretudo os estudos de História da Arte e Arquitetura. Entretanto, cada vez mais se discute o sentido do Barroco como fenômeno amplo que teria marcado fundamentalmente a formação cultural do Brasil, com conseqüências até o presente.
Nos últimos anos, em eventos da A.B.E., tem-se discutido repetidas vezes os vários aspectos de releitura de expressões culturais barrocas e da necessidade de novas perspectivas na reavaliação teórica do Barroco no Brasil. Esse debate inclui também posições críticas relativas aos contextos nos quais o Barroco se inseriu e se insere.
Nesse debate, tem-se dado nova atenção aos vínculos do Barroco com a Contra-Reforma, a Cristianização do Novo Mundo e a Recatolização da Europa no passado e no presente. Coloca-se a questão, neste contexto, da posição do Barroco nos países e regiões protestantes e, - problema de crescente atualidade - , da posição de estudiosos e artistas brasileiros de confissão evangélica perante o patrimônio católico barroco do passado.
Essas questões, que extrapolam contextos nacionais, foram refletidas no exemplo da igreja barroca protestante da pequena cidade de Eckenhagen, Renânia do Norte. Essa igreja é sobretudo famosa pelo seu órgão de 1794/95, de Johann Christian Kleine, organeiro da localidade próxima de Freckhausen, com 32 registros, o maior do gênero na região. O interesse histórico-cultural do templo, porém, manifesta-se na sua história, marcada pelas dificuldades que encontrou a Reforma para ali se impor, a partir de 1569.
A cultura católica da região encontrava-se, na época, profundamente enraizada. O local havia sido cedido pelo Imperador Frederico Barbaroxa ao Arcebispo de Colonia, em 1167, tendo-se ali construído uma considerável basílica dedicada a Santo Alexandre. No decorrer do século XVIII, a construção foi substituída pelo edifício barroco atual, em forma de salão, com balcões ao redor.
O Barroco da igreja de Eckenhagen, ao contrário da função contra-reformatória desse estilo, coloca-se a serviço do protestantização. Toda a sua dinâmica expressiva é dirigida ao altar e ao púlpito acima dele, ou seja, à palavra do pregador; coroando-o, o grande órgão. Do lado oposto, situa-se o relógio, contrastando a temporalidade da realidade humana com a eternidade da Palavra divina.
Nas reflexões, salientou-se o fato de que se o Barroco, além de suas funções pragmáticas, também apresenta uma fundamentação teológica, e essa estaria primordialmente vinculada com concepções místicas e sacramentais próprias do pensamento católico, então o uso de aspectos estilísticos de sua expressão a serviço da Reforma levanta necessariamente questões que não são apenas estéticas. Teria o Barroco a capacidade de metamorfosear-se de tal modo a poder superar os seus próprios fundamentos?
Haverá, num Brasil marcado fortemente por movimentos evangelicais lugar para expressões culturais que se inserem numa história das mentalidades de cunho barroco? Essas e outras reflexões deverão ser aprofundadas em futuros eventos da A.B.E.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).