Doc. N° 2099
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
102 - 2006/4
Italianidade e ópera em processos híbridos Reflexões no Museo Teatrale do Teatro alla Scala, Milão Comemorações de W. A. Mozart e A. C. Gomes.
As instituições integradas à Academia Brasil-Europa inserem-se em tradição estreitamente ligada ao estudo da vida, da personalidade, da obra e da recepção de Mozart (Salzburg, 1756 - Viena, 1791). Por esse motivo, as datas comemorativas do grande compositor têm sido consideradas em eventos de estudos culturais em contextos internacionais, tais como aquelas do ano 1991, relatadas em números anteriores deste órgão. No âmbito das comemorações dos 250 anos do nascimento de Mozart, no corrente ano de 2006, os trabalhos focalizam sobretudo questões culturais intereuropéias de projeção internacional relacionadas com os estudos mozartianos. Entre elas, encontra-se aquela das relações do compositor de Salzburg com o mundo latino, em particular com a vida musical italiana e, a partir daí, ou sob essa perspectiva, com a esfera cultural luso-brasileira. O maior compositor brasileiro vinculado com o universo musical italiano, Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836 - Belém, 1896) também é particularmente lembrado no corrente ano dos 170 anos de seu nascimento e 110 anos de sua morte. Considerando essas datas, representantes da Academia Brasil-Europa realizaram, no dia 17 de março do corrente ano, uma visita à exposição de título "Mozart alla Scala. Le opere italiene", apresentada no Museo Teatrale alla Scala de Milão. A exposição, inaugurada no dia 28 de janeiro, esteve a cargo de Vittoria Crespi Morbio e Filippo Crivelli. Nela se procurou, com documentos originais, textos e imagens cuidadosamente preparadas, cenografias, programas, costumes e modêlos oferecer um panorama das obras italianas de Mozart apresentadas no Teatro Ducal de Milão e, posteriormente, no Scala. As obras em língua italiana de Mozart, de Mitridate re di Ponto (1770) a Idomeneo (2005), foram oferecidas também em video. A transformação das cenografias no decorrer das épocas foi tratada com atenção sob o aspecto da pedagogia e da estética museológica, através de exposições contrastantes nas diferentes salas. Projetos discretos e austeros são confrontados com idéias e realizações de grande impacto visual. Assim, Lucio Silla é apresentado tanto na versão do século XVIII quanto na de Patrice Chéreau (e Richard Peduzzi), de 1984. O local da exposição, o Museu Teatral do Teatro Scala, visitado várias vezes por estudiosos brasileiros da A.B.E. em anos anteriores, primeiramente em 1975, apresenta-se remodelado. É de especial interesse para os estudos culturais euro-brasileiros por conter um busto de Antonio Carlos Gomes e oferecer um panorama geral, bem documentado, da época em que o compositor brasileiro atuou na Itália. O Museu representa, além do mais, uma prova da importância da iniciativa particular e de mecenato na criação de entidades culturais e científicas, uma vez que se originou da compra de coleções postas à venda por um antiquário de Paris, Jules Sambon. O museu foi instalado no edifício do antigo Casino Ricordi, anexo ao Teatro alla Scala, e inaugurado em 1913. A partir do material inicial, aumentou-se a coleção sobretudo através de doações, tais como aquelas da casa de repouso de músicos, fundação G. Verdi. Da maior importância para estudos de teatro é a biblioteca Livia Simoni adjunta ao Museu. Trata-se de uma coleção de mais de 40.000 volumes especializados doados pelo crítico Renato Simoni, em 1952. Hoje, através de aquisições e sucessivas doações, conta com ca. de 140.000 volumes. Na entrada do museu, depara-se significativamente com o busto de Verdi e o retrato do arquiteto que projetou o Teatro alla Scala, Giuseppe Piermarini. Entre os objetos apresentados, salientam-se instrumentos (virginal, saltério, alaúde, lira-chitarra e um pianoforte que pertenceu a Verdi) e também uma natureza-morta com representação de instrumentos. A história da vida teatral do século XVI ao XVIII é considerada na sala da Commedia dell'Arte, com objetos que apresentam figuras também de significado para os estudos da cultura popular. Aliás, particularmente rica é a coleção de objetos de porcelana do museu, com imagens teatrais e musicais. Em representações em miniatura, documentam o interesse da época pelas situações pastoris, com danças rústicas e instrumentos camponeses. São exemplos vivos também do intercâmbio cultural entre o Ocidente e o Oriente, uma vez que comprovam a recepção da porcelana chinesa e japonesa recebida através da Companhia das Índias. Em posição de honra no Museu apresenta-se um quadro de Giuditta Pasta, cantora de extraordinária importância para a história do canto do século XIX, cujo significado transcendeu as fronteiras italianas e mesmo européias.Uma considerável coleção de quadros é dedicada a Verdi e àqueles do seu convívio. Entre outras cantoras e atrizes, coloca-se em relevo Adelina Pati e Eleonora Duse. A vida musical do Teatro alla Scala está naturalmente devidamente representada com abundante documentação referente a nomes dos grandes compositores e regentes que ali atuaram, sobretudo Giacomo Puccini e Arturo Toscanini. De interesse particular para os estudos interculturais é a coleção de jogos utilizados pelos espectadores no recinto dos teatros do passado. Vê-se ali uma mesa de jogo com ilustrações do mundo e de viagens a terras distantes.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).
© 2006 I.S.M.P.S. e.V. Todos os direitos reservados