Doc. N° 2104
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
102 - 2006/4
Hibridismo e a perspectiva histórica nos estudos músico-culturais
Ciclo de 6 sessões de estudos
As sessõs de estudos realizaram-se no contexto do ciclo de preleções (Vorlesung) dedicados à "A pesquida da música do Brasil", da Universidade de Colonia, em cooperação com a Academia Brasil-Europa. Tratou-se do primeiro evento em universidade européia dedicada à pesquisa da música, - não à música - do Brasil. Foi realizado paralelamente aos debates relativos ao conceito Hibridismo (veja o artigo correspondente nesta edição) e procurou aplicar os resultados das discussões na consideração de uma área específica de estudos, ou seja, o da historiografia da música do Brasil. As reflexões relativas a problemas derivados da instabilidade identificatória e de seus mecanismos de compensação e de supremacia no âmbito do processo colonialista dentro da própria sociedade colonizada foram considerados introdutoriamente como relevantes para o estudo diferenciado de todas as épocas e fases da história da música no Brasil. Em estudos de caso, foram considerados exemplarmente processos e fenômenos relativos ao período colonial, à época da Independência até a proclamação da República e ao período a ela posterior. Entre os muitos complexos tratados, salientou-se, por exemplo, que uma aproximação baseada nas reflexões relativas a processos identificatórios sob o aspecto da instabilidade e da compensação permitiria elucidar as extraordinárias demonstrações de "inteligência prática" de indígenas cristãos da América Latina na expressão dos antigos missionários, concretizadas na sua capacidade de reprodução artística, de construção de instrumentos, de cópia de partituras e de estilos e de composição segundo critérios apreendidos. A consciência de integração na nova ordem e o ímpeto de comprovar essa integração tornariam compreensíveis que muitas vezes indígenas e africanos cristianizados tivessem agido como perseguidores de seus próprios irmãos ainda pertencentes à cultura antiga. O desejo de impor-se em situações de labilidade, nas quais apesar de todos os esforços integrativos os protagonistas continuariam a sentir-se em estado subalterno e de exclusão, permitiria oferecer uma explicação para as eclosões culturais em determinadas regiões e épocas de sociedades de passado de conversão, de migração e de miscigenação, caracterizadas por surpreendentes conhecimentos de práticas, estilos e repertórios contemporâneos da Europa. Esta seria a situação, por exemplo, do assim-chamado "milagre do Barroco Musical Mulato". Tal como vem sendo discutido desde o início dos anos 70 no âmbito do desenvolvimento histórico dos trabalhos vinculados com a Academia Brasil-Europa, por exemplo na sessão final do Congresso Brasil-Europa 500 Anos: Música e Visões (1999), esses fenômenos culturais não podem ser estudados segundo paradigmas restritos de uma Musicologia Histórica convencional - muitas vezes ela própria resultado de situações, ímpetos e problemas éticos derivados do hibridismo -, pois exige a consideração de pontos de vista e métodos mais usuais no âmbito da Etnomusicologia e dos Estudos Culturais. O objetivo do ciclo foi, portanto, não o de analisar o hibridismo fenomenologicamente na música e na expressão musical através de análises estilísticas de composições e gravações. As atenções foram dirigidas à análise de discurso dos historiadores da música ainda representantes da mencionada "Musicologia Histórica" e sobretudo da pesquisa da "Música Colonial", termos e concepção disciplinares que vêm sendo há anos tão criticados pelas suas limitações eurocêntricas e essencialistas. As reflexões relativas ao hibridismo permitiriam sensibilizar os estudiosos para a recepção mais diferenciada dessa produção intelectual, focalizando-a em primeiro lugar como manifestação de um contexto e, assim, como alvo de estudos culturais. As discussões terão continuidade no âmbito dos trabalhos relativos à Ciência da Ciência (science of science), um dos principais objetivos da A.B.E.
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