Doc. N° 2086
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
101 - 2006/3
Simbólica do processo colonial Ciclo de 8 sessões de estudos - Universidade de Colonia e Academia Brasil-Europa, abril-maio de 2006
Foto: M. Haug O tema foi tratado em função de complexos temáticos. O primeiro disse respeito aos fundamentos do sistema colonial sob o aspecto dos estudos culturais. Tratou-se aqui do pensamento anti-tipológico da antiga tradição hermeneutica vigente nos primeiros séculos da cristianização e da colonização nas suas relações com o homem e o mundo. Na consideração do tema, partiu-se do Carnaval como introdução mais imediata ao estudo da ordenação simbólica do repertório cultural transplantado ao Brasil pelos colonizadores. Mostrou-se que o Carnaval deveria porém ser considerado no âmbito global desse repertório, ou melhor do conjunto festivo, com folguedos e danças das várias partes do ano. Sob esse aspecto, dever-se-ia partir do significado das festas e da lúdica na cultura como resultado de métodos e processos de atração, conversão e solidificação da nova identidade. A análise de expressões culturais consuetudinárias basear-se-ia no entendimento dos vínculos da linguagem dos sinais com características do ano natural no hemisfério norte e o seu sentido no ano religioso do calendário eclesiástico. Haveria alegorias básicas no repertório de festas recebidas da Europa no Brasil e que foram pormenorizadamente tratadas com base nos seus fundamentos bíblicos. Dever-se-ia sempre levar em conta que, nesse sistema, o Homo ludens não seria, na verdade, aquele que dança e canta, mas sim aquele que transforma o outro em dançarino como participante de expressões grotescas do lúdico a serviço da superação dos antigos laços de identidade com o mundo pré-cristão. O segundo complexo temático disse respeito ao deslocamento da estrutura do ano religioso com relação ao natural com a transplantação do calendário católico para o hemisfério sul e suas repercussões nas expressões da harmonia das esferas. Aqui foram tratadas as diferentes expressões culturais dos grandes ciclos festivos do ano eclesiástico sob o aspecto de sua incongruência com os fenômenos do mundo natural constatados sensorialmente no Brasil. Salientou-se a importância do fato para o entendimento da importância dessas expressões culturais na formação religiosa do país e o seu significado para a análise estrutural e hermenêutica correta de signos e sinais na tradição brasileira. Considerou-se a importância do repertório cultural mantido no Brasil para os estudos culturais europeus, uma vez que muitas dessas expressões já desapareceram na Europa. Por outro lado, salientou-se a importância da perspectiva européia para a consideração adequada das expressões culturais tradicionais do Brasil. O terceiro complexo temático disse respeito à análise de expressões consuetudinárias segundo princípios hermenêuticos vigentes na Idade Média e no período do descobrimento e da colonização do Brasil. Procedeu-se à elucidação de aspectos básicos da compreensão de mistérios da vinda e da ressurreição nas suas relações com o passado, o presente e o futuro. Com especial atenção à questão da anamnese da primeira chegada, em carne e na humanidade carnal, tratou-se dos conceitos teológicos básicos e de suas expressões culturais, adequando-os à análise de expressões tradicionais dos festejos natalinos do Brasil e de suas repercussões em outras épocas do ano. Tratou-se do significado, para o Brasil, das diferentes referências, históricas, mitológicas e bíblicas da concepção da humanidade velha, manifestadas na representação de situações sobrepujadas e de inversão de valores nas encenações grotescas de expressões lúdicas. O mistério da segunda chegada, no presente e no espírito, foi tratado com base em expressões culturais simbólicas relacionadas com o fogo e com a união mística. O quarto complexo temático disse respeito ao significado de conceitos de renovação espiritual na ação missionária no contexto colonial. Tratou-se da fundamentação teológica e mística de conceitos relacionados com o bater e seus vínculos com a humildade e a humilhação. Especial atenção deu-se à espiritualidade do toque na mística medieval e suas repercussões nas expressões simbólicas relacionadas com instrumentos musicais e práticas. Considerou-se o conceito do novo nascimento em espírito, o seu significado nas ações de conversão e as relações entre a espiritualidade do bater e a auto-humilhação no processo de formação cultural do Brasil. Daqui procurou-se fundamentar uma filosofia ou teologia de diversas expressões culturais brasileiras, tratando-se em particular de uma nova perspectiva nos estudos relacionados com o samba, desenvolvida pioneiramente no âmbito dos trabalhos. O quinto complexo temático foi dedicado à questão da universalidade e da diversidade fenomenológica em processos de harmonizações e sincretismos. Sob o título de Brasil Mágico tratou-se do significado da Magia como técnica aplicada em antiga tradição de pensamento e os critérios básicos de sua análise adequada nas expressões culturais respectivas. Sob o título de Brasil Hermético tratou-se do significado de correntes ocultas na história ibérica e suas extensões e diferenciações no processo colonial. Também aqui foram tratados os critérios básicos da análise adequada de expressões correspondentes na cultura brasileira. Por fim, tratou-se de fenômenos recentes de cunho sincretístico no Brasil, com especial consideração do Vale do Amanhecer e do movimento da União do Vegetal. O sexto complexo temático foi dedicado à discussão dos conceitos adequados para a análise de expressões culturais brasileiras. Demonstrou-se a propriedade e a necessidade de análises estruturais e hermenêuticas adequadas no caso do repertório de expressões culturais consuetudinárias integradas em contextos religiosos ou de clara orientação ontológica. O estudo dessas expressões sem a consideração adequada de sua fundamentação teológica ou metafísica já teria levado a erros de interpretação de graves conseqüências. Completamente diversa seria a consideração de expressões culturais sem fundamentação teológica ou já totalmente secularizadas. Aqui a aproximação poderia ou deveria ser feita sob um aspecto pós-estruturalista de análise, uma questão, porém, que ficou reservada para um próximo ciclo de estudos. A.A.Bispo
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Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).