Doc. N° 2088
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
101 - 2006/3
Festivais de canções e processos de identidade cultural Relações interculturais em fenômenos de mundialização Reflexões em San Remo
Nas sessões de 2006 da Academia Brasil-Europa destinadas à discussão de questões de identidade na música brasileira à luz dos Cultural Studies e do papel exercido pela música popular em processos analisáveis sob a perspectiva de reforço identificatório em situações de instabilidade, deu-se atenção a fenômenos e evoluções dos anos sessenta, em particular no âmbito dos Festivais. A discussão foi aqui baseada sobretudo em publicações de J. Ramos Tinhorão, arguto observador crítico da cultura popular, estudioso de amplas visões, cuja obra ainda não recebeu a justa consideração analítica dos meios musicológicos e científico-culturais. A eclosão dos festivais no Brasil de então e o significado atual dos festivais de canções populares em nível internacional, em particular do Gran Prix Eurovision de la Chanson - no qual os italianos não participam - representam um fenômeno que não pode ser entendido sem a consideração do Festival de San Remo. O primeiro desses concursos teve lugar em 1951, com o título vencedor Grazie dei Fiori, interpretado por Nilla Pizzi, e, graças ao rádio, logo se popularizou. Desde 1955 foi também difundido pela televisão, não apenas na Itália. Entre os títulos de repercussão internacional pode-se mencionar Buongiorno tristezza, interpretado por Claudio Villa e Tullio Pane (1955) e Nel blu dipinto di blu (1958) (Domenico Modugno - Johnny Dorelli), Sarà quel che sarà (1983) (Tiziana Rivale) e Adesso tu (1986) (Eros Ramazzotti). O Festival contou com nomes provenientes de vários países, entre eles, por exemplo, Mary Hopkin com "Lontano degli occhi". Em 1968, Sergio Endrigo e o brasileiro Roberto Carlos. A Rádio Alemanha, de Berlim (DeutschlandRadio) divulgou, em 2005, crítica de Dario Fo, portador do prêmio Nobel de literatura, segundo o qual o Festival de SanRemo não mais permitiria canções de textos com crítica social, e que se poderia prever que logo somente membros do partido do govêrno nele poderiam participar. O festival, como concurso que agrada aos italianos, garantindo grande audiência, transportaria valores através das canções. Quando essas tratam de pobreza e marginalidade social, essas mensagens seriam recebidas por milhões. Segundo o crítico, os postos de responsabilidade pelo evento teriam sido ocupados por pessoas próximas ao govêrno, como já acontecido com o conselho administrativo do Teatro La Scala de Milão. Excluídos teriam sido artistas com determinados vínculos políticos, tais como a cantora napolitana Maria Nazionale, que trata nos seus textos do desemprêgo, da pobreza e da mafia. O Festival de San Remo nunca teria sido um centro da crítica social, mas nos últimos anos teriam ali despontado tendências sócio-políticas, do movimento de 68 até comentários sobre o plebiscito ou sobre o divórcio. Essas debates serviram de preparativos para uma viagem a San Remo em março de 2006, por ocasião do Festival da Canção Italiana, iniciado no dia 27 de fevereiro e finalizado no dia 4 de março. As observações in loco deverão contribuir para novas sessões no âmbito dos estudos relativos à cultura popular em contextos interculturais em futuro próximo.
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Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).