Doc. N° 2095
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
101 - 2006/3
Italianos, Alemães, Judeus. Imigração européia e história cultural de São Paulo Depoimento de Isolda Bassi-Bruch e reflexões em Freudenberg
Realizou-se, no dia 28 de maio de 2006, no Centro Europeu de Estudos Brasileiros na Renânia do Norte/Vestfália, República Federal da Alemanha, uma conferência em forma de entrevista e de depoimento da Profa. Isolda Bassi-Bruch, de São Paulo. O evento foi realizado em colaboração com o Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia. A conferência teve como tema o relacionamento entre a imigração européia no período entre-guerras do século XX ao Brasil e o movimento cultural e estético no país, em particular em São Paulo. Com as suas raízes em família de artistas e intelectuais imigrados, com elos italianos por parte do pai e alemães por parte da mãe, Isolda Bassi-Bruch cresceu e viveu em ambiente marcado pelo uso de vários idiomas e de vínculos com diferentes círculos de imigrantes europeus em São Paulo. O seu pai, Torquato Bassi, foi um dos grandes expoentes da pintura acadêmica em São Paulo, vencedor em vários salões paulistas. Tendo iniciado os seus estudos musicais com músicos italianos em São Paulo, logo passou a receber uma formação de cunho alemão. Seu professor foi Ernst Mehlich, pianista e regente de relêvo na vida musical alemã e paulista. Com relação a Mário Andrade, ressente-se de maior falta de interesse, explicando esse fato pela sua maior proximidade com a cultura alemã, e não francesa. Na Europa, realizou estudos em Viena e em Berlim. Foi testemunha do início da Segunda Guerra em Berlim. Na sua exposição, descreveu a situação dos brasileiros então residentes na capital da Alemanha, alguns deles estudantes de música, e de suas dificuldades em abandonar o país. Alguns deles, com o conhecimento de línguas, passaram a atuar em programas radiofônicos a serviço do regime nazista. Retornando ao Brasil, voltou primeiramente a tomar aulas com Ernst Mehlich, logo passando porém a receber orientação de Hans Bruch, seu futuro marido. Este tinha imigrado ao Brasil com a sua família por motivos de perseguição antisemita na Alemanha, uma vez que a sua esposa era judia. Abandonou uma promissora carreira na Alemanha e procurou desenvolvê-la no Brasil, embora nunca haja se adaptado totalmente, utilizando-se sempre da língua alemã nos meios familiares. O seu relacionamento com a colonia alemã de São Paulo não foi intenso, uma vez que esta se mostrava influenciada por tendências nacional-socialistas. O relacionamento com os meios italianos, porém, foi bastante gratificante. Após a Guerra, Isolda Bassi-Bruch desenvolveu um trabalho pedagógico na então Escola Livre de Música fundada e dirigida pelo idealista Th. Heuberger. Isolda Bassi-Bruch salientou sobretudo o significado de Hans Joachim Koellreutter no desenvolvimento dos estudos musicais no país. Por outro lado, descreveu os problemas causados pelo desconhecimento do meio, pela inadequação de métodos e de visão da vida musical de outros professores alemães que atuaram no país. Na discussão que se seguiu foi levantada a necessidade de estudos mais pormenorizados e diferenciados da imigração no Brasil, da prática musical e artística nos meios de imigrados em São Paulo e na influência que esses meios exerceram na formação das gerações futuras de artistas e intelectuais brasileiros. Em prosseguimento à sessão, realizou-se uma excursão à cidade de Freudenberg e região. No seu decorrer informal, houve oportunidade de recolha de novos pormenores do passado vivido e conservado na memória de Isolda Bassi-Bruch.
© 2006 I.S.M.P.S. e.V. Todos os direitos reservados
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).