Doc. N° 2055
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
97 - 2005:5
História cultural transnacional e Gnosticismo do mundo antigo
Colonia. Trabalhos da A.B.E. 2005
Realizou-se, em julho de 2005, conjuntamente com a Universidade de Colonia, um seminário da Academia Brasil-Europa destinado à discussão de questões relativas à Gnose e ao Gnosticismo na Antiguidade sob a perspectiva dos estudos interculturais. A A.B.E. retomou, aqui, um complexo temático que já vem tratando há anos em cursos, conferências, debates e publicações. O seminário marcou o encerramento do curso "Música na Gnosis da Antiguidade Tardia" e pretendeu oferecer a seus participantes uma formação intensiva, ainda que introdutória, em sistemas de concepção relacionados com a teurgia e as ciências ocultas na história da interculturalidade. Ao mesmo tempo, inseriu-se no debate crítico do conceito de história cultural transnacional (veja relato nesta edição). O seminário partiu da constatação de que o Gnosticismo da Antiguidade Tardia representa um fenômeno de extraordinário interesse para os estudos culturais em contextos globais, e sua relevância transcende a de estudos históricos e arqueológicos delimitados segundo regiões, culturas e épocas. As correntes gnosticistas e outros fenômenos culturais afins cruzaram culturas e atravessaram tempos, integraram concepções e formas de expressão de diferentes proveniências e contextualizações. Podem ser considerados, nessa harmonização de diferentes perspectivas, expressões e práticas como complexos culturais para os quais a comunicabilidade de concepções contextualizadas não representou impecilho. O estudo das diferentes tradições do gnosticismo e de fenômenos similares deveria consistuir assim uma exigência para os estudos interculturais. Isso não diz respeito apenas à consideração histórica ou histórico-cultural específica dos fenômenos do passado remoto. Essa exigência se refere sobretudo à possibilidade que oferecem para a análise de mecanismos, de processos, para os estudos das relações entre estruturas e suas contextualizações segundo histórias narradas, para reflexões quanto às possibilidades de inserção empática em contextos marcados por outras identidades nacionais e de suas relações com a própria identidade. Surgem assim, como de significado para a discussão e a necessária precisão conceitual de uma historiografia transnacional. De outro lado, Museu de Grenoble. Trabalhos da A.B.E. 2005. Fotos: H.Hülskath levanta-se a questão da dimensão transepocal de sistemas contextualizados historicamente nas correntes do antigo gnosticismo e fenômenos afins. Para a análise dessas estruturas e de mecanismos, o conhecimento da fenomenologia atual de concepções mitológicas, do sincretismo, da magia e de expressões gnósticas aguça a capacidade do estudioso para estudos mais sensíveis dos fragmentos documentais do passado. Esse fato tem demonstrado, nos vários eventos da A.B.E. dedicados a esse complexo temático, que esse campo de estudos pode ser até mais produtivamente tratado por pesquisadores culturais do que por historiadores especializados na Antiguidade ou por cientistas da religião, e os estudiosos brasileiros encontram-se aqui em posição privilegiada. Não se trata, evidentemente, de projeção de fatos observados empiricamente na atualidade a remoto passado. Trata-se antes de um outro tipo de preparação do próprio pesquisador, que leva a uma maior capacidade de reconhecimento de estruturas e a uma maior sensibilidade para compreender concepções e expressões que surpreendem a estudiosos com outro tipo de formação. À luz dessa formação cultural da maioria dos participantes do seminário, sensibilizados pelo estudo de tradições religioso-culturais latinoamericanas e sobretudo brasileiras, procedeu-se à análise de textos da Antiguidade. Ponto de partida dos estudos foi a Filosofia Natural e a recepção de concepções filosóficas gregas, de tradições de pensamento oriental e egípcias, com particular consideração de correntes pitagóricas. Nesse contexto, considerou-se sobretudo os elos do edifício filosófico-natural com o sistema de concepções cosmológicas, atentando-se sobretudo ao sistema gnóstico-astrológico dos Peratas. Os problemas hermenêuticos dos textos gnósticos foram tratados a partir de fragmentos de sistemas de Simão Mago, dos Naassenos, dos Sethitas, dos Valentinianos e de outros grupos. Particularmente tratados foram A Canção da Pérola e o Salmo Naasseno. O Hino de Cristo segundo Ceretius foi salientado como importante documento para o estudo de concepções musicais e simbólico-coreológicas. Quanto à magia, emprestou-se particular atenção a Iamblichos e Apollonius de Tyana. Por fim, foram considerados textos selecionados da literatura hermética. A sessão de encerramento do encontro foi dedicada a transmitir um panorama do atual estado dos debates relativos ao gnosticismo e ao sincretismo nos estudos culturais, com especial consideração do Brasil. Foram salientados, mais uma vez, os êrros difundidos por pesquisadores de religiões afro-americanas, sobretudo por etnomusicólogos que se ocupam com o Candomblé e expressões afins. (...)
G.R.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).