Doc. N° 2036
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Quis ut Deus? Concepções rosminianas: razão/religião e o princípio da passividade Reflexões em St.Michele, Itália Ano França-Brasil 2005 da A.B.E. - Programa Savoia-Piemonte
Uma via sacra corta a Europa da Itália à França, marcada pelo culto ao Arcanjo S. Miguel. Entre S. Miguel no Gargano e o Mont Saint-Michel na Normandia, situa-se a Sacra de S. Michele, no cimo do monte rochoso Pirchiriano, próximo à cidade de Aviglana. A 962 metros de altura, a igreja domina o vale do Susa. A Sacra de S. Michele é uma dos mais impressionantes manifestações arquitetônicas do culto dos anjos na Idade Média, em particular de S. Miguel. Foi local de sepultamento de membros da Casa de Savóia no passado e hoje é considerado como o símbolo por excelência do Piemonte.
A igreja, edificada no século X, segundo a tradição pelo eremita Giovanni Vincenzo, bispo de Ravena, a isso indicado pelo próprio Arcanjo, foi reconstruída como abadia no século XII, entre 983 e 987, pelo conde Ugo di Montboissier. Em 1381, passou ao protetorado de Amadeo VI de Savoia. O seu poder baseava-se nas propriedades a ela dependentes dispersas em várias regiões da França. Em parte destruída pelos franceses no século XVII, foi extinta em 1622 por Gregório XV. No século XIX, a igreja foi reaberta pelo rei Carlo Alberto de Savoia-Piemonte, sendo confiada aos padres Rosminiani, até hoje responsáveis pelo santuário.
O Istituto di Caritá, fundado por Antonio Rosmini Serbati (1797-1855), em 1828, possui hoje representantes em vários países do mundo, entre eles Inglaterra, Irlanda, Tanzania, Kenya, Venezuela, Nova Zelandia, India e Estados Unidos. No Brasil, vários foram os religiosos relacionados com os Rosminianos, devendo ser citado o capucino Pe. Ignazio da Ispra (1880-1935), que atuou no Maranhão, no Pará, no Ceará e em Pernambuco. O principal significado dos Rosminianos para os estudos transatlânticos e interamericanos reside na tradição de pensamento e de estudo a que se prende a instituição a exemplo de seu fundador. Assim mantém um Centro Internacional de Estudos, fundado em 1966 e instalado no Palazzo Bolongero, em Stressa, um arquivo que é um dos mais ricos do Piemonte e mantém a Rivista rosminiana di filosofia e di cultura.
O significado da tradição intelectual e das concepções dos rosminianos para a atualidade foi reconhecida pelo Vaticano, em 1998. Salientou-se que o fundador, Antonio Rosmini, ocupa uma posição de relêvo na tradição intelectual do cristianismo, consciente que foi de que não existe oposição entre fé e razão e que uma exige a outra. Convicto, com Santo Agostinho, que a fé sem a razão resulta no mito e na superstição, colocou a sua capacidade intelectual a serviço não só da teologia, mas também de diversas áreas do saber, tais como a filosofia, a educação, a ciência e a arte. Rosmini defendeu a atitude que definiu como princípio de passividade, orientando a investigação não de acordo com os seus desejos, mas sim segundo os desígnios da Providência, dirigindo a atenção contantemente a sinais em atitude de absoluta disponibilidade. O pensamento de Rosmini surge assim, nessas considerações salientadas pelo documento pontifício, como de significado atual e relevante no sentido de uma nova evangelização e numa aproximação entre religião e ciência.
No âmbito dos estudos de processos culturais transatlânticos, pareceu à A.B.E. ser conveniente dar atenção a esses pronunciamentos, uma vez que indicam linhas de ação e oferecem orientações, acentuando a vigência de um edifício de concepções de fundamentação ontológica que tem sido alvo de críticas de pensadores contemporâneos. Para o fomento das reflexões, a Sacra de S. Michele ofereceu um local particularmente motivador. A consideração do culto a S. Miguel na Idade Média européia e nas suas extensões posteriores às regiões extra-européia exige o estudo do pensamento angelológico, o que dirige a atenção à crença na existências de seres puramente intelectuais como resultante conseqüente de um edifício de concepções. S. Miguel como príncipe dos exércitos celestes, a sua simbologia e atributos, as características que revestiu o seu culto no passado, tão significativas para o Brasil, surge, sob o aspecto mais abstrato de uma consideração teológica e filosófica, não só como expressões culturais e objetos de estudos, mas sim também como imagens representativas de concepções teóricas de importância fundamental para o entendimento de complexos culturais.
A.A.B.
Observação: o presente texto oferece apenas um relato suscinto de eventos, estudos e projetos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu conteúdo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).