Doc. N° 2039
Direção: Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo e Dr. Harald Hülskath © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
96 - 2005:4
Visões francesas e suas extensões Questões teóricas da análise de expressões culturais marianas em contextos transatlânticos Reflexões em La Salette pelo Ano França 2005 da A.B.E.
As atividades França-Brasil do ano de 2005 da Academia Brasil-Europa foram abertas com um colóquio dedicado às correntes atuais na teoria da arte e suas implicações para as ciências da cultura em memória a Jacques Derrida. Esse evento encerrou um ciclo de estudos dedicado a correntes teóricas atuais de relevância para a análise cultural e deu início a um ciclo de estudos de processos transatlânticos, realizado pela A.B.E. em cooperação com a Universidade de Colonia, Alemanha.
No decorrer dos debates, discutiu-se, entre outros aspectos, o intuito deconstrutivo de edifícios conceituais de fundamentação ontológica/metafísica de aportes pós-estruturalistas e pós-modernos. Levantou-se, aqui, o problema do uso irrefletido desses aportes em análises culturais concernentes a expressões de natureza religiosa.
Sob o aspecto dos estudos transatlântico-interamericanos, complexos culturais do Catolicismo estão exigindo esforços no sentido de desenvolvimento de um edifício teórico e de aportes metodológicos adequados de análise.
A discussão relativa a sinais e seu sentido no texto, à semiologia e/ou à gramatologia, não pode deixar de lado, sob o aspecto da análise de processos culturais , o fato de que a doutrina de sinais desempenha papel relevante também e sobretudo na tradição teológica do Catolicismo e de suas expressões.
Para o aguçamento da sensibilidade para o estudo desses problemas e para o desenvolvimento das reflexões, a A.B.E., no ano França-Brasil 2005, patrocinou uma visita de estudos ao Santuário de La Salette na diocese de Grenoble, nos Alpes sul-franceses. No decorrer da visita, salientou-se que a conexão entre a história da religiosidade francesa e a do continente americano é muito mais diferenciada e relevante do que normalmente se julga. Um de seus aspectos diz respeito a fenômenos marianos do século XIX na França e que se irradiaram a países latino-americanos, sobretudo ao Brasil. Uma dessas primeiras visões foi a de Catarina Labouré (1806-1876), nascida na Burgúndia, vicentina, que deu origem à muito difundida "medalha milagrosa". A seguir, tem-se a visão de 19 de setembro de 1846 da "bela senhora" de La Salette a jovens pastores Maximin Giraud (1835-1875) e Mélanie Mathieu Calvat (1831-1904). Nessa visão, Maria surgiu vestida de camponesa, com uma coroa de rosas, um diamante de luz, rodeada de estrêlas e outros símbolos conhecidos de outras tradições do culto mariano francês, no caso de imagem de Amiens.
O culto, com o apoio de Philibert de Bruillard, bispo de Grenoble, foi aprovado em 1851, sendo a arqui-irmandade de La Salette instituída canônicamente um ano depois. A congregação dos Missionaires de Notre Dame de La Salette, inicialmente apenas dedicada aos peregrinos ao local, ampliou o seu trabalho a outras partes do mundo após o decreto de aprovação pontifícia de 1890.
É digno de nota a falta de atenção dedicada até hoje a fenômenos e expressões marianas mais recentes nos estudos culturais do Brasil, até hoje orientados sobretudo sob uma perspectiva da pesquisa do Folclore que salienta expressões católicas de mais antiga tradição. Sob novos enfoques teóricos, porém, esse complexo temático passa a ter interesse como objeto de análises. Certas características simbólicas e circunstâncias similares de diferentes aparições marianas dos dois últimos séculos sugerem questões e possibilidades de estudo sob a perspectiva teórico-cultural. Essa reconsideração se faz também necessária por se tratar aqui de expressão cultural de processos transatlânticos, de relevância sobretudo para o estudo das relações França-Brasil. O culto de La Salette, introduzido no país pelo missionário Clemente Henrique Moussier, nascido em 1860 em Ablandin-La Salette, vindo em 1902, tem os seus centros principais de irradiação em São Paulo (Santana), no Rio de Janeiro (Catumbi) e no Rio Grande do Sul (Marcelino Ramos). Complexos contextos relacionados com a expansão urbana de grandes cidade e com a imigração no Sul do Brasil oferecem possibilidades de estudos diferenciados.
A.A.B.
Observação: o presente texto oferece apenas um relato suscinto de eventos, estudos e projetos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu conteúdo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).