Os trabalhos de 2005 da Academia Brasil-Europa vem sendo marcados pelos eventos preparatórios no âmbito do projeto Transatlântico, um complexo de estudos e eventos que procura renovar as perspectivas transatlânticas nos estudos culturais relacionando-as com processos interamericanos.

Após encontros nos Estados Unidos e no Caribe, destinados a criar uma rêde ampla de cooperações, os trabalhos europeus se concentraram no estudo de fundamentos culturais e religiosos intereuropeus que determinaram desenvolvimentos posteriores.

Uma das questões tratadas em eventos da A.B.E. no Brasil e discutidas também em encontros no Caribe, foi a da transmissão aos países americanos de mecanismos inerentes à ordenação simbólica da cultura ocidental-cristã; esses mecanismos foram postos a serviço da conversão de indígenas, continuando vigentes em expressões culturais até o presente.

Uma das características desse processo de performação de identidades é a existência de figuras e situações grotescas e hilariantes. A fundamentação bíblica e a hermenêutica teológica dessas expressões, já discutidas em várias ocasiões, não esgotam as possibilidades de análise. Os estudos das expressões culturais tradicionais em países americanos, ainda vivas, ao contrário do que acontece em geral na Europa, possibilitam novas perspectivas para os estudos histórico-culturais e artísticos do Velho Mundo. Essa reciprocidade dos estudos transatlântico-interamericanos abre caminhos para o tratamento do tema em nível de abstração, ou seja da visão e da função do Grotesco na cultura cristã-ocidental e, talvez, do Grotesco em processos culturais.

Para motivar reflexões nesse sentido, a A.B.E. escolheu a Catedral da Basiléia. Essa cidade desempenhou um papel relevante na história religiosa da Europa medieval e também na Reforma protestante. A possibilidade de análise do papel do Grotesco num dos grandes centros do Catolicismo - e posteriormente da Reforma pareceu fazer da Basiléia um local particularmente adequado para as reflexões. Além do mais, a Basiléia assume uma dimensão européia e internacional devido às suas relações com o Humanismo (Erasmus de Rotterdam, Bonifacius Amerbach) e com o Iluminismo (Isaak Iselin).

Primeiramente refletiu-se acerca das possibilidades de leitura da Catedral no referente ao período românico da fundação de Henrique II (1019) e das reconstruções góticas (1356-).

A seguir, tratou-se da interpretação de animais símbolos na estatuária medieval a partir de aportes da História das Artes e, interdisciplinarmente, da observação etnológica de tradições ibéricas e latino-americanas. Em estudos anteriores encetados no âmbito dos trabalhos da A.B.E. já se considerara teoricamente esses aportes, discutindo-se a necessidade de sua atualização segundo novos questionamentos dos estudos culturais da atualidade. No caso particular, algumas das expressões conhecidas e já estudadas de tradições brasileiras permitem novas aproximações elucidativas no referente às figuras grotescas da Catedral da Basiléia. Os trabalhos deverão ser continuados.

A.A.B.

Observação: o presente texto oferece apenas um relato suscinto de eventos, estudos e projetos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu conteúdo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).