Doc. N° 2023
Direção: Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath e Curadoria Científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
95 - 2005:3
Deconstruções e reconstruções na história: Dúvidas "Zweifel": reflexões nas ruínas do Palácio da República de Berlim
As sessões realizadas pela Academia Brasil-Europa nos Estados Unidos e em vários países do Caribe, em fevereiro e março de 2005, destinadas ao estabelecimento de cooperações no estudo das interações entre processos culturais transatlânticos e interamericanos, levantaram a questão da revisão de perspectivas historiográficas e de método no estudo de complexos culturais. Em várias oportunidades foi salientada a necessidade de deconstruções de edifícios de narração histórica erigidos a partir de vínculos determinados pelo passado colonial ou por fatores confessionais e político-ideológicos. Essas reflexões, baseadas no estudo de obras de pensadores contemporâneos, foram retomadas por ocasião de trabalhos realizados pela Academia Brasil-Europa em Berlim, entre os dias 11 a 17 de abril de 2005.
Considerando que as reflexões relativas à deconstrução e à reconstrução de edifícios de concepções e da própria história partem do uso metafórico de termos da arquitetura, partiu-se da suposição que o debate teórico poderia ser incentivado se confrontado com um caso concreto de demolição e reconstrução de um prédio de considerável potencial simbólico. Esse é o caso do ex- Palácio do Povo da ex-República Democrática Alemã, construído no local do antigo Palácio Real de Berlim. Assim como as ruínas deste palácio haviam dado lugar ao palácio socialista, assim deveria ser este, hoje também em estado de abandono, ser demolido para dar lugar a uma reconstrução do antigo palácio real. Os argumentos a favor e contra esse projeto de demolição e reconstrução foram considerados sob diferentes pontos de vista, tais como da memória histórica, da identidade urbana, da construção de sentidos na urbe e da recuperação de um conjunto artístico monumental. Refletiu-se a respeito de possibilidades de produção de significado numa metrópole sem conotações passadistas e historicistas. Procurou-se generalizar os argumentos em nível de abstração teórica, aplicando-os ao estudo de outras áreas culturais e, sobretudo ao complexo temático que é objeto do projeto em andamento: o da renovação dos estudos transatlânticos e interamericanos a partir de perspectivas que considerem prioritariamente a interação de processos.
Em particular, motivado pelo edifício em questão, considerou-se a situação dos estudos teóricos representativos de edifícios conceituais de fundamentação ideológica relativos às Américas e à compreensão das relações transatlânticas. Deveriam ser eles deconstruídos e substituídos por reconstruções de edifícios passados, restaurando imagens globais projetadas em outras épocas? Deveriam ser eles mantidos como expressão de outras situações e talvez adaptados e reinterpretados? Poderiam vir a ser monumentos com potencial simbólico que levassem no futuro a nova inversão de situações? Seria a banalidade, a trivialidade e outros critérios estéticos decisivos para a deconstrução de edifícios? Quais seriam os critérios de conservação histórica e de monumentos no espaço teórico a ser reorganizado?
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).